Quando penso em transformação digital, recordo-me sempre de uma citação da clássica estória As Aventuras de Alice no País das Maravilhas – “Eu não sou louco. É só a minha realidade que é diferente da tua” (Lewis Carroll, 1871). É um tema amplo, subjetivo e dependente do conhecimento & perspetiva daquele que o enfrenta. Realidades não replicáveis que enquanto num ambiente perduram e crescem, noutros parecem o cerne da insânia.

Atualmente, a transformação digital já é algo a que a maioria não tenta escapar, mas sim, navegar. Esta inevitabilidade lembra-nos a descida infinita que Alice experiencia quando cai na toca do coelho. Objetos e imagens insanas, embora curiosas, e até, de lógica extravagante.

Nascida à luz da 4ª revolução industrial, a transformação digital,  pode caracterizar-se como o processo de capitalização de tecnologias digitais para criar/ ajustar processos de negócio, cultura e experiências de cliente/ colaborador. Assim, segundo a Sales Force – Empresa de renome em soluções de CRM (Costumer Relations Management), é algo que transcende as fronteiras do negócio, os diferentes departamentos e os diversos setores. Reflete-se desde os atos mais simples, como a passagem para um novo smart phone, às mudanças mais complexas, como a criação de sistemas de blockchain em serviços.

Retomando a metáfora, podemos comparar a transformação digital com o Gato de Cheshire, vulgarmente conhecido por “gato que ri”, cuja existência é confiante e assertiva, não sendo, contudo, direta até serem colocadas as perguntas certas. O que acontece nas Organizações quando não colocamos as perguntas certas? Também nos rimos, mas para não chorar.

Assim, tal como o Gato de Cheshire, a realidade da transformação digital precisa de questões poderosas, perguntas que põem em causa o sentido normal das coisas e que apelam ao abandono das regras normais, do pré-estabelecido e à abertura de um impossível possível… de uma realidade louca.

Para que seja possível uma Organização assumir a transformação é crítico desafiar-se constantemente, de forma a identificar e avaliar quais os aspetos e dinâmicas que desempenham papéis significativos na economia digital, ou seja, se a Transformação Digital é o gato de Cheshire, as Organizações são o coelho branco, que se caracteriza como uma personagem em constante conflito com as suas duas personalidades.

Por um lado, exibe um perfil diretivo e focado nas tarefas que têm de ser realizadas, por outro, procura permanentemente aceitação e aprovação superior do mercado – a rainha de copas. Sabemos que para a ter, precisa de inovar.

 Transpondo esta caracterização para o mundo Organizacional, podemos então evidenciar o esforço contínuo em que as demais Organizações se encontram para equilibrar o foco no cumprimento da estratégia de negócio e o desafio premente de criar tendências junto do mercado e perante a concorrência.

Estamos sempre em falta, estamos sempre atrasados, se formos a ver.

Tal como na estória, é frequente as Organizações sentirem-se atrasadas “Ai, ai! Ai, ai! Vou chegar demasiado atrasado!”, seja para abraçar um novo sistema, implementar um programa ou ajustar um processo já existente que, após um ano, já estará seguramente desatualizado.

Este receio é, na sua raiz, justificado. Assistimos a um panorama de transformação constante. São muitos os projetos de Gestão da Mudança - identificação de novas competências, reestruturações, novas funções, programas de desenvolvimento, entre outras.

Contudo, de todas as transformações, a digital é, provavelmente, a mais desafiante, a mais rápida e obsoleta, mas também a que mais simplifica o nosso dia a dia. Com a 4ª revolução industrial, a economia global sofreu uma mudança, passando a agregar a economia digital. Embora seja muitas vezes reduzida ao ato de realizar negócios através de mercados baseados na internet e na World Wide Web, a economia digital corresponde à vertente económica baseada em tecnologias de computação digital (Bukht & Heeks, 2017).

O mundo digital trouxe-nos inúmeras possibilidades, quando transformou realidades complexas em cenários mais simples e eficazes, desde que pensado, estruturado e implementado, tendo por base um bom diagnóstico.

Assim, segundo a literatura, para que as Organizações consigam ser relevantes nesta nova economia e avancem com uma transformação é crítico garantirmos 3 dimensões de análise em fase de diagnóstico:

  • Garantir um avanço na Digitalização, que remeta para a capitalização de informação arquivada digitalmente, por forma a estabelecer processos de trabalho simples e eficazes
  • Compreender o Custo vs. Benefícios das opções estratégicas que envolvem uma transformação digital e o seu retorno
  • A Maturidade Digital, sendo este o grau de compreensão e capacidade de concretização desta mudança

Tal como o País das Maravilhas, vivemos, atualmente, uma realidade que nos possibilita pensar sem limites e conceptualizar os nossos processos out of the box. Uma realidade que questiona o racional enraizado e que, ao mesmo tempo, abre para o diferente, inovador e para o mais simples.

Naturalmente que, tudo que exponencia o desenvolvimento, com tal liberdade conceptual, traz consigo um lado negro, como a tendência da rainha de copas, ou do mercado, para cortar as cabeças de todos os que não forem bem sucedidos nestas transformações.

O segredo, se me permitem, é olhar para o imenso que é o Universo Digital e sentir a adrenalina das maravilhas que dali podem sair. – “Há um lugar, como nenhum lugar na Terra. Uma terra cheia de maravilhas, mistério e perigo. Alguns dizem que, para sobreviver, é preciso ser mais louco que um chapeleiro. Que, felizmente, eu sou!” (Chapeleiro Louco, Lewis Carol, 1871).

Autora: Ana Carolina Falcão, Consulting Michael Page Consulting 

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