Temos assistido com alguma frequência a debates acerca dos novos perfis e tendências de recrutamento no setor do retalho, que de um modo geral convergem na importância da literacia informática na era do e-commerce (hard skills) e, de igual forma, na preponderância da venda consultiva e personalizada (soft skills).

A democratização destas tendências, juntamente com as estatísticas positivas no setor no ano passado, no qual houve um crescimento de 3,8% no volume de vendas e de 5,1% na taxa de emprego, e no mercado de trabalho em geral, que registou a descida da taxa de desemprego para os 8,4% no último semestre do ano, leva a grandes desafios no recrutamento e seleção desta área de negócio. A diminuição dos perfis especializados disponíveis no mercado, bem como a integração desses mesmos perfis num mercado global de oportunidades, obriga as empresas a apontarem as baterias para uma nova tipologia de perfis, cada vez mais focada na noção de conversão profissional.

A conversão de talento consiste na identificação e valorização de um portefólio de conhecimentos e competências facilmente adaptáveis ao setor, muitas vezes provenientes de experiências académicas e/ou profissionais noutra área de atividade. Esta prática é particularmente relevante para o retalho se tivermos em conta o número cada vez mais limitado de perfis com experiência efetiva e relevante no setor. A necessidade de consultar profissionais de outras áreas é uma mais-valia e também uma estratégia emergente.

O facto mais curioso é que este emagrecimento dos perfis disponíveis se deve, entre outras coisas, a um êxodo para outros setores que valorizam a transferência das hard e soft skills dos profissionais de retalho para os seus setores. Um pouco por toda a Europa mas com particular destaque no Reino Unido, outras áreas de negócio têm feito incursões de mercado no sentido de contratar perfis de retalho, nomeadamente o setor da banca e dos fundos de investimento que valorizam bastante os profissionais que vêm do retail banking. O perfil relacional e analítico, de foco personalizado no cliente e na gestão de negócio, é eficazmente aproveitado por estas empresas e demonstra a relevância da conversão profissional.

É evidente que o retalho deverá seguir este mesmo rumo, prestando cada vez mais atenção aos conhecimentos e competências com maior nível de transferibilidade no mercado de trabalho. Numa conjuntura cada vez mais competitiva, as empresas devem investir grande parte das suas práticas e políticas de recursos humanos no desenvolvimento de talento dentro de portas, enriquecendo as suas organizações com ideias e metodologias cuja génese pode  vir de outras áreas de negócio.

Neste processo, dois grandes obstáculos têm surgido no caminho das organizações de retalho: a dificuldade em identificar eficazmente as competências chave transferíveis de outras áreas e, por outro lado, a frágil marca empregadora que a generalidade das insígnias de retalho têm no mercado de trabalho.

Embora seja difícil definir com exatidão as core skills indispensáveis para uma conversão eficaz, os casos de sucessos conhecidos nas posições de management realçam uma linha comum de competências chave: proatividade e autonomia, plasticidade e rápida aprendizagem, liderança assertiva e pensamento estratégico. Áreas comerciais de serviços e indústria, com o setor das telecomunicações a assumir uma posição de destaque, dada a intensa formação técnica e comercial dos perfis, bem como funções de customer service, são bons exemplos de setores de atividade com alta transferência de competências para o negócio do retalho.

Não obstante, é importante perceber que o setor do retalho está em permanente concorrência com outros setores de atividade que valorizam exatamente o mesmo núcleo de competências, entrando em cena a importância de conceitos como a marca empregadora organizacional e as melhores práticas de atração e retenção de talento. Com o enormíssimo volume de estudos relacionados com o employer branding, é já uma evidência empírica que as empresas de retalho vigoram ano após ano entre as menos atrativas do mercado. Nesse sentido, é importante que estas organizações se desvinculem de estratégias arcaicas de atração de talento e se foquem verdadeiramente na sua marca e singularidade, ultrapassando a má imagem do setor com políticas inovadoras e ajustadas às expectativas da generalidade dos perfis presentes no mercado.

Essas estratégias envolvem muito mais do que as compensações e benefícios: questões como a autonomia, inovação, flexibilidade, meritocracia, excelência de serviço e formação contínua são aspetos centrais de uma marca empregadora de sucesso, aos quais o setor do retalho pode chegar. Para estendermos essa atratividade ao perfil de entrada, é importante a comunicação direta com a academia e a aposta continuada na mentoria e programas de management, que vinculem os jovens profissionais a projetos de longa duração dentro do setor.     

Em suma, o setor do retalho atravessa uma fase de intensas mudanças ao nível dos seus quadros técnicos e de gestão, num mercado de trabalho onde as competências chave desses perfis são altamente valorizadas por outros setores de atividade. Neste cenário, é importante entender a dinâmica deste mercado e aproveitar a transferibilidade de competências, não sem antes desenvolver uma marca empregadora forte que defina uma empresa de retalho como um bom lugar para se aprender, crescer e desenvolver uma carreira a longo prazo.

 

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